Responsabilidade x Autonomia x Permissividade
O que você quer desenvolver no seu filho, quais habilidades estão por trás das tarefas que você exige dele e qual sua estratégia para que seu filho faça as atividades que você pede.
O encontro de 04/4/2022 do Café com a Direção nos convidou a refletir sobre questões difíceis no processo de educar como responsabilidade, autonomia e permissividade. Como equilibrar essas questões entendendo o que o filho pode assumir em cada faixa etária e o que é de decisão exclusiva dos pais.
Quando pensamos no pacote: “Responsabilidade, Autonomia e Permissividade”, a palavra que encontramos como ponto de equilíbrio é Flexibilidade.
Quando sou flexível, eu saio desse espaço de centralidade, de quem quer sempre tudo do meu jeito. A flexibilidade nos dá a possibilidade de ouvir, nos dá a possibilidade de considerar o outro e, principalmente, nos dá a possibilidade de nos relacionar porque quando vamos para um espaço de rigidez, em algum momento essa situação quebra, e perdemos a habilidade de conversar. A rigidez é um espaço onde não há conversa, não há negociação, é tudo do meu jeito, e somos tentados a usar meios como o castigo, o grito, a ameaça, que são recursos para o “eu faço você fazer”, que no fundo nada mais é do que a descarga da nossa frustração. O resultado disso em nossos filhos muitas vezes é a presença da mentira, da distância, do sentimento de que eu não posso contar com meus pais, não posso compartilhar erro, apenas o acerto e deixamos de ser uma opção segura para eles. Ficamos então num espaço muito empobrecido para que algum aprendizado bom aconteça. E quando a rigidez chega num ponto de ruptura, o medo do afastamento do filho nos leva para a outra ponta: agradar, atender, dar conforto no seu bem-estar imediato. É nessa oscilação que se perde a potência da educação. Na rigidez estamos num espaço muito apertado, muito sem movimento e muito voltado à exigência. Na flexibilidade eu olho para as situações como oportunidade de aprendizado.
A grande questão é aprender a ser flexível, mas com princípios e valores muito claros. Pensemos em um rio, com suas margens. Se não houvessem margens, seria uma água esparramada. Podemos pensar que essa água esparramada somos nós atendendo nossos filhos em nome de um bem-estar imediato, tentando impedir qualquer tipo de frustração ou desconforto, onde eu faço tudo por eles, por sua vez, eles não precisam se preocupar com nada. Não tem aprendizado, crescimento, não tem direção. Agora vamos imaginar que as margens do rio sejam os princípios e valores e, então, a partir desses princípios e valores não se pode passar, é por onde essa água tem que ser conduzida. Mas, dentro desses princípios e valores, há mobilidade, há flexibilidade, há escuta, há conversa. Trazendo para o cenário da inflexibilidade, da rigidez, podemos pensar num rio muito apertado, estreito, onde a água mal consegue se movimentar. E nesse sentido é um sofrimento para essa água percorrer o seu caminho. Então, precisamos antes de mais nada, nos perguntar: quais são os meus princípios e valores, o que é inegociável, o que é caro para mim, o que me norteia? Tendo essa clareza entendemos o tamanho dessa margem e onde é possível flexibilizar, tirando a educação desse espaço do eu quero: “eu quero que você faça isso agora e do meu jeito”. Neste caso, o que está me norteando, então, é o meu querer, o meu desejo e isso nos leva para a rigidez. Quando eu tenho claro os meus princípios e valores, a minha margem do rio delimitada, eu consigo utilizar isso como o meu norte para as minhas decisões, para as correções dos meus filhos com coerência.
Dizer não é muito importante, mas dizer não com consideração significa que eu considero as necessidades e as vontades da criança e se ela quiser algo sem ultrapassar as margens, eu posso atender. Não é o não porque eu não quero. Encontrar essa medida é o grande desafio. Dizer não em qualquer situação ou dizer sim mesmo que atropele todos os nossos princípios, nos coloca longe do aprendizado e nos afasta nessa relação.
A flexibilidade é uma palavra muito potente dentro de uma relação porque ela nos retira de um espaço rígido, de um espaço de pouca escuta, ou às vezes de nenhuma escuta, de um espaço de arrogância, de prepotência, de soberba, de orgulho, de impor ao outro o nosso jeito de ser. Colocamos a autoridade na força, mas a autoridade é construída no exemplo, no respeito. Quando a criança é ouvida, acolhida e considerada, a gente começa a perceber uma obediência pelos bons motivos. A autoridade e a obediência são consequências de uma trajetória, de um processo, de um encontro, é como se esse respeito fosse sendo conquistado a cada experiência que esse filho vive e quando ele falha você se coloca olhando para ele enquanto aprendiz e não com um olhar de exigência e de reprovação. Quando seguimos por esse caminho a voz que nós temos na vida dos nossos filhos se torna muito mais potente. É a nossa opinião, a nossa reflexão que eles vêm buscar, exatamente porque nós estamos dentro de uma margem de rio, com flexibilidade, com encontro, com escuta, com aprendizado, com amor.
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